Os Livros Ardem Mal

2008 Vintage: Miguel Cardina

Posted in Balanço by Miguel Cardina on Domingo, 18-01-2009

Melhor livro
Cingindo-me apenas ao domínio da história, três obras editadas em 2008 merecem destaque. Desde logo, Comunismo e Nacionalismo em Portugal. Política, Cultura e História no século XX, de José Neves (ed. Tinta-da-China), na qual o autor percorre com mestria os fios que enovelaram «comunismo» e «nacionalismo» na história do PCP (ao mesmo tempo que nos mostra que a história pode não ser um mero relato dos factos). Em segundo lugar, cabe destacar a volumosa narrativa sobre Humberto Delgado, escrita pelo seu neto, Frederico Delgado Rosa: Humberto Delgado, Biografia do General Sem Medo (ed. Esfera dos Livros). Por fim, mencione-se o estudo comparativo de Manuel Loff sobre a ditadura portuguesa e espanhola: O nosso século é fascista! O mundo visto por Salazar e Franco (1936-1945) (ed. Campo das Letras).
(à margem, porque não é de um livro que se trata, anote-se  a importância didáctica e o cuidado gráfico dos fascículos Os Anos de Salazar, que durante algumas semanas foram distribuídos com o Correio da Manhã e a Revista Sábado. Estranhamente – ou talvez nem por isso, depois da manhosa publicidade – pouca gente lhe parece ter dado importância…).

Melhor blogue / Melhor blogger
No último ano, e como foi bem lembrado aqui, os blogues mais dedicados à análise e ao comentário político sofreram um processo de «concentração» (e também de fractura) que, apesar de tudo, não chegou para lhes injectar doses adicionais de interesse e novidade. Entre a linguagem sisuda e proto-institucional, de uns, e o rebaixamento do nível argumentativo até ao limite facilmente enjoativo do bitaite, de outros, sobraram algumas paisagens limpas. Uma corrente blogosférica particular manteve o vigor: aquela constituída pelos blogues que optam pelo nervo subjectivo e pelo diletantismo da escrita em vez da busca de um qualquer estatuto «de referência». Três exemplos distintos: o registo aforístico e «vagamente inútil» de João Gaspar, em Last Breath; a genialidade só aparentemente niilista do Luís Januário; Os olhares do Pedro Vieira, em mono ou em stereo.

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