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O Atelier de Tarsila

Posted in Artes, Notícias by Ana Bela Almeida on Terça-feira, 23-06-2009

tarsila

O “inferno verde” chegou a Santiago de Compostela. Até dia 31 de Julho, pode visitar-se na Fundação Caixa Galicia, gratuitamente, a exposição de Tarsila do Amaral, 82 obras entre quadros e estudos. Dos vários objectos expostos, quase todos relacionados com o motivo da “viagem” na vida e obra de Tarsila do Amaral, destaca-se um oratório mineiro do séc. XVIII. O rebuscamento das suas cores e formas acentua a inclinação neo-barroca do movimento Pau-Brasil, com o rosa pastel e o azul celeste do oratório reflectidos no espelho modernista “Manacá” (1927).

Manacá (1927)

Manacá (1927)

A presente mostra de Tarsila do Amaral, co-dirigida pela Fundação Caixa Galicia e pela Fundação Juan March, é apenas a terceira inteiramente dedicada à obra da autora na Europa. O poema “Atelier”, de Oswald de Andrade, que nos recebe na primeira sala da exposição, reforça a singularidade da ocasião. Se “Atelier” inaugura e, de certa forma, “legenda” a exposição, também acaba por sublinhar a própria ausência de Oswald. Não há dúvida que “o Tarsiwald”, na expressão de Mário de Andrade, é, desta vez, “a Tarsiwald”. Afinal, esta não é uma exposição dedicada ao Modernismo brasileiro, com Oswald de Andrade a servir de eterno anfitrião: esta é a exposição de Tarsila do Amaral, das suas pinturas e desenhos, das suas crónicas, dos seus ensaios, das suas fotografias e outras relíquias, com Oswald de Andrade como convidado no espaço/atelier tarsiliano.

Boneca-Tarsila

Saci-Pererê (1929)

Esta mais recente visita europeia da obra de Tarsila do Amaral vem actualizar um dos imperativo do modernismo brasileiro antropófago, agora a 200 quilómetros do Porto: a digestão da Europa continua a passar pelo jejum de Portugal. Uma ausência que se faz notar muito particularmente numa mostra de arte visual onde imperam os elementos textuais: poemas de Mário de Andrade ou de Blaise Cendrars, textos de Haroldo de Campos ou de Jorge Schwartz , primeiras edições da Klaxon, cartas e manifestos, aqui em tradução castelhana ou em versão galega. Esta última completa perfeitamente o circuito lusófono do movimento modernista brasileiro, connosco, mais uma vez, no banco da estação.

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