Os Livros Ardem Mal

O Prazer e a Dor – Diónisos na Escola de Apolo

Posted in Livros, Recensões by Catarina Maia on Sábado, 31-01-2009

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José Reis, professor de Filosofia na Universidade de Coimbra, lançou recentemente, nas Edições Afrontamento, O Prazer e a Dor – Diónisos na Escola de Apolo. Este é um livro muito interessante mas que me deixou algumas dúvidas. O autor sugere que, como diz na contra capa: “o prazer e a dor são, em todas as suas relações e modalidades, físicas e psicológicas, a única coisa que move o homem”. Uma afirmação forte, e para a provar José Reis pega em duas éticas aparentemente díspares, a de Aristóteles e a de Kant, e tenta mostrar como na verdade ambas funcionam sob a mesma base, a mesma essência: o prazer e a dor. Assim como também a religião. Segundo o autor tudo, e digo bem, “Tudo está aí, doravante, ao alcance da mão. E ainda por cima, como se vê, tudo isto não é uma teoria mas a simples descrição dos factos que nos constituem”. É logo este tom excessivamente assertivo que me faz desconfiar.  Continuo ainda a preferir a tríplice de Feuerbach “Amor, Razão e Vontade”. E o Amor pode ser, justamente, o elemento que desconstrói a teoria de que o homem é movido exclusivamente pela repulsa à dor e a atracção pelo prazer. Um dia Roland Barthes disse que a dor de um amante abandonado era semelhante ao martírio de um homem num campo de concentração. Foi muito criticado por isto. Mas admitindo que a dor na relação amorosa pode, de facto, ser avassaladora, não deixa de ser curioso observar como o ser humano, quando abandonado, em vez de fugir da dor, procurando esquecer aquele que lhe faz doer, pelo contrário, o procura e deseja talvez com mais força, tantas vezes se deixando sucumbir. No entanto, este continua a ser um livro que suscita debate, nos faz pensar em nós, nas nossas acções, no seu porquê. E por isso é um livro que recomendo.

José Reis (2008), O Prazer e a Dor – Diónisos na Escola de Apolo. Santa Maria da Feira: Edições Afrontamento. 99 pp. [ISBN: 978-972-36-0974-5]

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