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Variações para além do Sexo e Género

Posted in Recensões by slc on Segunda-feira, 12-01-2009

Variações sobre sexo e género

Publicada em Setembro de 2008, Variações sobre Sexo e Género é a mais recente antologia de textos que reflectem e incitam à reflexão sobre a contemporaneidade, mais concretamente as questões relativas à «diferença», nomeadamente, entre homens e mulheres. Com textos de Jane Flax, Joan Scott, Françoise Collin, Gisela Bock, Donna Haraway ou Judith Butler, este livro constitui um pensamento sobre o pensamento e discursos epistemológicos dos estudos feministas, de género, sobre as mulheres, etc. – um «meta-discursi-metodológico», para utilizar a expressão de outra autora presente nesta antologia, Rosi Braidotti. À semelhança de outras (raras) antologias críticas do feminismo contemporâneo (por exemplo, Género, Identidade e Desejo. Antologia Crítica do Feminismo Contemporâneo, organizada por Ana Gabriela Macedo), Variações sobre Sexo e Género constitui uma ferramenta teórica de inegável valor, por tornar acessível, em português, textos seminais dos estudos feministas e, sobretudo, pelo jogo de tradução da tradução que implica e impulsiona.  E é precisamente perante o que podíamos chamar de dupla tradução que assenta a relevância desta compilação. Por um lado, torna acessíveis textos que não são facilmente disponibilizados. Por outro lado, possibilita e convida à reflexão sobre as influências que as traduções podem ter no pensamento feminista português, visto que os conceitos são traduzidos pelas e nas especificidades nacionais. Porque urge «um trabalho de tradução e confrontação das (…) múltiplas diferenças» dos feminismos (Braidotti, 26), na senda da definição dos «valores que desejamos [intelectuais feministas] promover e transmitir» (idem, 20), esta compilação de textos teóricos, pela reflexão que promove, revela-se uma plataforma de diálogo de crucial importância.

Num jogo de fronteiras esbatidas – mas sempre presentes – , percorremos os textos desta antologia num vaivém teórico: do exterior para interior e daqui para o um novo exterior ou mesmo «entre o dentro e o fora dos estudos feministas», como sugere Collin (p.9). E é deste jogo oscilante, variado e de variações, que se faz a leitura destes textos, essa «teia de questões e dúvidas» em que cada autora se refere às outras autoras, numa «possibilidade de percursos cruzados» (p.13). 

«Nómadas» (Braidotti) do pensamento e no pensamento, o livro convida à viagem (variação?) pelo próprio «fazer do pensamento», reflectindo, com Jane Flax, «acerca da forma como pensamos as relações de género» ou, mais ainda, como «não as pensamos» (p.103). Os textos são peremptórios quanto a esta urgência de pensar os feminismos e a forma como estes podem «estar imbuídos de relações de poder/conhecimento existentes» (Flax, 119). Como adiantado por Bock, é necessário reflectir sobre a forma como os feminismos, combatendo divisões binárias, recriam a «sua própria versão» das dicotomias: desde o binário sexo-género (bem presente nesta antologia), passando pela igualdade-diferença, até à polarização integração-autonomia (p.118).   (more…)

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