Os Livros Ardem Mal

Bolonha não: Teerão!

Posted in Notícias, Universidade by Osvaldo Manuel Silvestre on Quinta-feira, 18-06-2009

Protest-Tehran-Univ1

Apesar de toda a desinformação e contra-informação (de que o maior responsável é obviamente um regime que, para lá do recurso à simples interdição da imprensa internacional e local, tem dado mostras de extrema sofisticação tecnológica na hora de atacar a livre circulação da informação), tudo indica que no passado domingo à noite a universidade de Teerão foi selvaticamente atacada pela milícia do regime, tendo eventualmente morrido, nas suas residências universitárias, cerca de cinco estudantes. Nada que a mesma universidade não conheça, pois há 10 anos coisas muito piores tiveram aí lugar. Informações idênticas apontam para que noutras grandes universidades do país tenham também ocorrido cenas de extrema violência.

Sou professor universitário e transporto comigo a convicção profunda da nobreza da profissão que, com gosto e por fortuna, exerço. Por essa razão, muito me entristece que a universidade portuguesa, e em particular a minha, se entusiasme tanto com cerimónias de puro show off, ou marketing, como aquela em que se transformou nas últimas décadas o ritual do doutoramento honoris causa – que em meu entender devia ser simplesmente banido, pois há muito deixou de exercer a sua função académica -, e passe ao lado de ocorrências como as que, no Irão, põem em causa a dignidade (desde logo, territorial) de todas as universidades do mundo, enquanto locais que têm de ser ontologicamente avessos a qualquer forma de repressão e violência.

Numa altura em que a universidade europeia está tomada pela gripe bolonhesa, que a não deixa pensar em mais nada senão na sua sobrevivência, paremos um momento e pensemos antes nos estudantes brutalmente agredidos na Universidade de Teerão e noutras do país.

Fico à espera de que o Senado ou o Conselho Geral de alguma universidade portuguesa, ou algum reitor, se lembrem da Universidade de Teerão e decidam, pelo menos, pôr a bandeira da sua universidade a meia haste, honrando assim aqueles que estão a ser brutalizados no Irão pelo eterno ódio à inteligência e ao pensamento livre, que, não por acaso, sempre desconfiou da universidade. Uma vez que em várias das universidades portuguesas existem estudantes iranianos, um tal gesto limitar-se-ia a cumprir os requisitos mínimos da decência.

Quanto a Bolonha, pode seguir alguns momentos depois.

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