Inquérito OLAM: Manuel Resende
Manuel Resende é poeta e tradutor. Como poeta, publicou três livros, com grandes intervalos entre a edição de cada um. Como tradutor, traduziu Lewis Carroll, Beckett, Shakespeare, Elytis (é provavelmente o maior conhecedor da poesia grega moderna entre nós), Sloterdijk, e vários outros. Agradecemos a Manuel Resende a disponibilidade que manifestou para responder ao nosso inquérito.
1) Qual é, em seu entender, o melhor livro de ficção (romance, novela ou conto) portuguesa do século XX? Porquê?
O Malhadinhas de Aquilino Ribeiro. Porque, sendo embora prosa regionalista, rompeu com as tradições folclóricas.
Em tempo: estive quase para dar como resposta a este inquérito que o livro de ficção mais importante do século XX para a literatura portuguesa foi o Ulisses de James Joyce traduzido por João Palma-Ferreira (ou até por António Houaiss), pela simples razão de que o original foi um dos livros mais importantes para a Weltliteratur e a literatura portuguesa (seja lá o que isso for) não se pode isolar da literatura mundial: de resto, a maior parte das escolas literárias portuguesas são reflexo e tradução de escolas nascidas “lá fora”. Além disso, ao fazê-lo, defenderia a tradução como criação legítima.
Mas não tive coragem de o fazer.
2) Qual é, em seu entender, o melhor livro de poesia portuguesa do século XX? Porquê?
O livro de poemas do Álvaro de Campos, de Luís de Montalvor na sua sintaxe compositiva e na ortopedia do seu regime de manuseamento e leitura. Porquê? Porque é.
3) Se a pergunta não fosse «qual o melhor» mas sim «qual o mais importante», as suas respostas seriam as mesmas ou seriam diferentes? Em quê, no segundo caso?
No caso da prosa, a resposta seria a mesma.
No da poesia, a resposta já seria diferente: Manual de Prestidigitação de Mário Cesariny de Vasconcelos, porque aponta para um certo grau de insubordinação que é necessário à fluidez do trânsito intextinal. Quero eu dizer, porque assentou definitivamente o surrealismo em Portugal. Com atraso? E quê? A culpa é do Cesariny?
Dito isto, o respondente não está certo de haver «um» livro melhor ou mais importante, abrindo uma excepção para Der Mann ohne Eigenschaften, que, infelizmente, não é português. O Valente Soldado Schveik também não é. Nem O Processo. Idem aspas para L’Amour fou.
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